A Turma do Funil
Sem mais suspense e mistério: o trânsito de Belo Horizonte precisa fluir; correr, como se fôssemos uma metrópole inteligente.

Foto do trevo do BH Shopping, o primeiro shopping-center de Minas, em 1979 e 2022. (Foto: Reprodução)
Pensem vocês em Belo Horizonte, como a primeira cidade projetada e planejada, no Brasil moderno, inaugurada em 1897, para existir dentro da Avenida do Contorno.
Apenas seis anos antes, o mineiro Santos Dumont, que vivia “no mundo da Lua”, trouxe o primeiro carro para o Brasil, em São Paulo.
Agora, imaginem um Boeing dentro de uma gaiola, um transatlântico num aquário e uma locomotiva correndo em qualquer loja do BH Shopping.
Conseguiram?
Amigas e amigos, chega! Basta! Já passou da hora, ninguém aguenta mais. Não tem mais graça e não é por esta porta que queremos entrar no Guinness, o livro dos recordes.
Sem mais suspense e mistério, explico. O trânsito de Belo Horizonte precisa fluir; correr, como se fôssemos uma metrópole inteligente.
Serei mais explícito e direto. Por curiosidade, acaso e um pouco de masoquismo, analisei uma antiga foto do trevo do BH Shopping.
O BH Shopping foi o primeiro shopping-center de Minas. Foi inaugurado em 1979, quase num subúrbio, quase fora de BH. Era “perto do longe”, a léguas do centro.
Desbravador, o BH Shopping contribuiu para o desenvolvimento e valorização da região ao longo das décadas seguintes.
E é aí que nasce o elogio e mora o perigo, a começar pela data: 1979! E mais! Depois de cinco expansões, continua líder de mercado. Tudo divino e maravilhoso. Mais ou menos.
Tem muita gente que gostaria de viajar no tempo, voltar ao passado ou conhecer o futuro. O problema, sem romantismo e saudosismo, é parar no tempo, no caso, 1979.
Belo Horizonte em 1979, era um ovo! De codorna ou avestruz, mas um ovo. E quem
consegue ou quer viver num ovo?
Voltemos à foto do BH Shopping em 1979. Lá estava ele, lindo e fagueiro como sempre.
Hoje está até mais.
Em seu entorno, nada da “Selva de Pedra” como conhecemos. Lá estava o complexo, cercado por terra e, claro, montanhas. Montanhas, aquilo que já foi um dos símbolos de Minas.
Hoje, a mesma foto parece o contrário de um terremoto. No lugar da terra, mil vias, no lugar das montanhas, um mar de prédios, um mais alto que o outro.
Até aí tudo bem. A natureza foi feita para ser domada, aproveitada, reciclada, transformada, mas não destruída.
Ainda tudo bem. Ninguém esperava que o BH Shopping continuasse uma ilha ou solitário oásis. O lance é o que a ilha e o oásis geraram: um turbilhão, um funil, uma confusão, inclusive de sentimentos.
Numa foto de 2022, mais emblemática que a de 1979; vemos o shopping soberano, o Belvedere e o Vale do Sereno. E qual o ponto comum? O trevo! De 1979! De volta ao passado.
O trevo do BH Shopping pode ser chamado de gargalo da turma do funil. Detalhe de matar: pista e meia para ir, pista e meia para voltar. Funil virando engarrafamento.
Agora, mesmo sem imaginação, imaginem: 1979, 1989, 1999, 2009, 2019 e 2029 ali na esquina. Isso, se sobrar esquina pra contar história.
Ajoelhado no milho, suplico, em nome da razão, aos responsáveis: queridos prefeitos de BH e Nova Lima, vereadores, deputados, governador e até “Padim Ciço”.
Por favor, revejam, com a maior urgência, uma solução para destravar este nó que, do sério, tira até Jó!
Uma dica que é surpresa para ninguém é a famosa linha de trem, desativada e inútil há séculos, pois é propriedade de Nova Lima, BH e União, logo, terra de ninguém.
Cachorro com três donos morre de fome. E todos perdem. Como perdemos nós, mortais habitantes ou “habitués” da região. Está ali um equipamento pronto e querendo desafogar este trânsito que devora tempo, dinheiro e saúde.
É óbvio e ululante que este mesmo equipamento pode ser Bombril com 1002 utilidades. Avenidas, parques, ciclovias, lazer, comércio; estas coisas muito úteis à população que vota e paga impostos.
Não podemos perder este último bonde, já que metrô virou blasfêmia. Não podemos perder esta última via; única solução para desafogar um trânsito que já ultrapassou a qualidade de insano e hoje é indecente.
Existem ideias mirabolantes, com saudade dos “Jetsons” e do filme “Blade Runner”, como trens, monotrilhos e tapetes voadores.
Tudo muito bonito no papel e em mesas de bar que resolvem os problemas do mundo, mas só até o fim das garrafas.
Sejamos sensatos e lúcidos. Exijamos o impossível, mas contentamo-nos com o que pode ser feito, para uma cidade menos poluída de CO2 e mais sustentável; cada vez maior, mas mais inteligente, bonita e habitável; vivível. Com qualidade de vida, ordem e progresso.
Salvemos uma região tão linda e potente, quanto desperdiçada. Tudo que podia ser e não é.
Por que Belo Horizonte parou no tempo? Por que há 40, 50 anos, nada de novo no front? Ninguém está pedindo as pirâmides do Egito; muito menos suas múmias.
Famoso e saudoso empresário de Minas costumava brincar girando as pedras de gelo de seu uísque: “BH, em vez de canteiro de obras, faz obras em canteiros”.
Sem culpar fulanos e sicranos, há séculos gritamos no deserto sobre o metrô, o anel rodoviário, a própria rodoviária, a BR 262 (Espírito Santo, Minas, São Paulo e Mato Grosso do Sul), Papai Noel, renas e duendes.
Enquanto outros estados encaram o Século 21, BH e Minas parecem ter aversão a grandes obras. Gente! Até pecado tem limite e este é imperdoável.
O que vamos fazer? Esperar mais 40, 50 anos para falar e lamentar o que não fizemos em 2023?
Mas nem tudo está perdido porque a esperança tem nome e cargo. Palmas para Jarbas Soares, procurador geral de Justiça, o homem que pensa alto e grande: obras, investimentos, soluções definitivas, esperança, futuro e belos horizontes para Minas.
De novo: não queremos encontrar culpados, queremos solução. E a união de todos os envolvidos. Acredito que agora com a intermediação do Ministério Público, a gente acredita que se chegará a uma solução viária definitiva para aquela região.
Jarbas Soares realmente tem conseguido ouvir todas as contrapartidas dos representantes dos grandes empreendimentos para se chegar a um a lugar comum, bom para todo mundo. Tomara!