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Isabela Scalabrini se despede da TV Globo após 44 anos

"Essa é, com certeza, a decisão mais difícil da minha vida. Deixar um trabalho que amo. Deixar a Globo", publicou a jornalista.


Foto: Reprodução Instagram


Após 44 anos de uma trajetória de sucesso no jornalismo da TV Globo, Isabela Scalabrini deixa a equipe da emissora. E foi entre aplausos, e muita emoção, que a jornalista foi recebida pelos colegas e profissionais em seu ultimo dia de trabalho.


Pelas redes sociais, Isabela compartilhou o momento e revelou que "deixar um trabalho que ama, foi a decisão mais difícil de sua vida".


Vídeo: Reprodução Instagram

Essa é, com certeza, a decisão mais difícil da minha vida. Deixar um trabalho que amo! Deixar a Globo. Uma história intensa que começou há 44 anos.
Mais da metade da minha vida na mesma empresa. Foi bom demais! Me arrepio ao pensar em tudo que produzi neste ofício tão fascinante.
Vibrei com todas as reportagens. Pra mim, foi uma lição de vida. Um privilégio conhecer tanta gente, tantos lugares e ter tanta informação. Nenhum dia foi igual ao outro. E não faltou emoção. E, mesmo quando a notícia não era boa, a mensagem era de esperança. Mas, depois de tanto tempo, surgiram outras prioridades. Quando a gente menos espera, é preciso fazer escolhas. Testar a nossa coragem. Desacelerar. É uma mistura de sentimentos. E sinto que preciso cuidar um pouco mais de mim, gastar meu tempo sem olhar as horas. Não vai ser fácil pra quem correu a vida inteira contra o relógio, atrás da notícia.
Quero minha grande família bem mais pertinho de mim. Dona Nancy, que completou 96 anos, vai ser a mãe mais abraçada do mundo. E o meu marido, que está comigo desde o início disso tudo, também vai ficar feliz. Ele é o namorado que conheci na empresa, há 44 anos. São muitas histórias!
Minha paixão pela reportagem é a mesma da iniciante que entrou na TV Globo no último ano de faculdade, em 1979. Me lembro da alegria de ter conseguido o estágio. Um caminho que começou na emissora, no prédio do Rio, no departamento de Esportes, e termina aqui na regional, em Belo Horizonte.
Que privilégio ter nas mãos o microfone da empresa que me acolheu por quatro décadas.
Conheci muitos países, fiz coberturas de Copas e Olimpíadas, muitos carnavais no Sambódromo e até a narração do desfile, em 1998, com Mangueira e Beija-Flor empatadas e campeãs.
Sentei nas bancadas do Esporte Espetacular, Globo Esporte, Jornal Hoje, Bom Dia Rio.

Fotos: Reprodução Instagram


A jornalista fazia parte do quadro de funcionários da emissora desde 1979. Em 1998, se mudou para Belo Horizonte e apresentou por duas décadas o principal jornal da Globo Minas, o MGTV, se tornando um dos rostos mais populares de Minas Gerais. Recemente, ela se dedicava a reportagens para informativos da rede como Jornal Nacional.


Dona de um jeito cativante e  único, Scalabrini realizou entrevistas com importantes nomes da cultura, esporte e politica mundial, como Ayrton Senna, Pelé, Kurt Cobain, Luciano Pavarotti, entre outros.


Ayrton Senna


"Conviver com ele nas corridas de Fórmula 1 foi como viver um sonho" relatou Isabela.


"Imaginem a cena no dia seguinte ao GP do Rio em 1987 - o piloto estava em Angra dos Reis. A casa dele ficava na beira da praia e era protegida por um muro alto. Jornalistas concorrentes faziam plantões em barcos, em frente à casa. Eu consegui chegar à praia com a ajuda de moradores, e, em cima de uma pedra, grávida, gritei pelo Senna. E lá vem ele falar comigo: “Isabela, se eu responder a uma pergunta, você vai embora?" E eu disse: "Duas?" Ele: "Ok.. então pode vir aqui que eu gravo”. Ganhei uma exclusiva pro JN. Que dia! Grande Senna! Gratidão eterna", relembrou.


Tom Jobim


Ter estado ao lado de um dos maiores músicos da cultura nacional foi um privilégio de poucos. Mas, Isabela conseguiu. "O encontro com Tom Jobim, ao piano, no apartamento dele, olhando o Cristo pela janela, está guardado no cantinho do coração. E já tem muuuuito tempo", pontuou.


Kurt Cobain


Em 1993, no Rio de Janeiro, Scalabrini entrevistou com o entao vocalista da banda Nirvana, Kurt Cobain. "Um dos meus filhos não acreditou quando eu contei, anos depois, que já havia entrevistado Kurt Cobain. Tive que pegar a gravação no arquivo da Globo pra mostrar pra família. Eu corri atrás dele dentro do hotel e gravei a entrevista".


Pelé


Em 1989, na sede da TV Globo, no Rio de Janeiro, Isabela conversou com o rei do futebol. Na ocasião, ele tinha ido assinar o contrato como comentarista da Copa do Mundo da Itália. Veja o momento:


Vídeo: Reprodução Instagram


Homenagens


Com uma trajetória tao longínqua, é claro que seus companheiros e amigos de profissão renderiam diversas homenagens à Isabela.


A jornalista Larissa Carvalho a definiu como inspiração. "Vou levar de você, seu afeto, sempre tão intenso por mim. Sua disposição pelo trabalho, tão contagiante. Seu coração, tão aberto - você recebe quem chega, socorre quem precisa... com uma bondade rara", publicou.

Já a jornalista e escritora Viviane Ppssatp fez questão de ressaltar além do lado profissional de Isabela. "Quero falar aqui da mulher admirável que você é. Uma mulher que, entre uma pauta e outra, teve fôlego para alicerçar uma família linda. Uma mulher que conseguiu sustentar a união e o amor com as poucas horas que sobravam fora dos plantões. E casar três filhos em um único ano!! Quem é jornalista e mãe sabe do que eu estou dizendo, compartilhou.


Diversos outros profissionais e personalidades comentaram nas redes Scalabrini. Confira:





Em e-mail de despedida, o diretor de Jornalismo da Globo, Ali Kamel, se despediu da repórter e apresentadora. Leia na íntegra o texto divulgado pelo UOL:


Em 2020, pouco antes da pandemia, Isabela Scalabrini me procurou dizendo que estava se preparando para encerrar sua colaboração com a Globo. Ela me explicou que queria mais tempo para si, depois de 44 anos na emissora. Combinamos de voltar a conversar, e o fizemos no ano seguinte, eu com uma pontinha de esperança de que ela tivesse mudado de ideia. Isabela ficou conosco ainda em 2021 e 2022, mas sinalizando que sairia. No final do ano passado, me procurou mais uma vez e marcou a saída para esse final de janeiro. Eu entendi as razões dela e combinamos de fazer o anúncio hoje.
Na conversa, ela me disse uma verdade que deve inspirar todos os que são apaixonados por jornalismo: ela se sente plenamente realizada e diz que olha para trás e só sente orgulho. Ela tem razão.
Em 1979, Isabela cursava a universidade à noite e trabalhava de manhã na Rádio Nacional, como repórter de rua. Foi aprovada no concurso de estágio da Globo depois de fazer provas de conhecimentos gerais ao lado de centenas de candidatos (quase como um vestibular) e, depois, já num grupo menor, de passar por entrevistas seletivas com editores do JN. Foram aprovadas dez mulheres. O estágio durou cerca de um ano e Isabela passou por todos os setores do jornalismo. O contrato foi assinado em janeiro de 1980.
A primeira missão depois de ser efetivada foi trabalhar na salinha da apuração da Editoria Rio. Conversava com bombeiros e policiais nas dezenas de rondas pelo telefone - era ali que um repórter aprendia a fazer perguntas. Fez a primeira reportagem para o JN naquele período. No tempo da película, havia uma quantidade sempre muito pequena de filme na câmera: mas ela fez uma "passagem" e uma entrevista sem errar ("de blusa azul"), ela me contou na nossa última conversa. Em seis meses, surgiu uma vaga no departamento de esportes e ela transferida. Foi pioneira.
Na década de 1980, havia pouquíssimas mulheres no jornalismo esportivo - só algumas em rádio e jornal. Na Globo, a repórter Mônika Leitão foi escalada para a Olimpíada de Moscou (1980), mas logo depois pediu demissão. Isabela foi assim, por muitos anos, a única mulher na nossa equipe esportiva. Nos estádios, em dias de jogos, o público reagia com todo tipo de brincadeira preconceituosa quando ficava no campo. A pergunta que mais ouvia era: "Você entende de futebol?". Ela não entrava no vestiário, claro. Eram os jogadores que iam até a porta para a gravação. Mas nunca deixou de noticiar algum fato e nem foi desrespeitada por jogadores ou treinadores. Nunca deixou de fazer reportagem esportiva por ser mulher. Ela lembra que foi Hedyl Valle Júnior quem teve a ousadia de a escalar para coberturas internacionais.
Em 1986, na Copa do Mundo do México, acompanhou a seleção da Argentina de Maradona. Era praticamente a única repórter do sexo feminino no evento. Lá, também ouviu muitas piadinhas de repórteres de várias nacionalidades. Mas foi a ela que Maradona deu uma entrevista, que começou exclusiva na concentração da equipe argentina, mas que logo virou uma coletiva com a correria dos repórteres, surpresos, tentando alcançá-la.
Na Olimpíada de Los Angeles, acompanhou a chegada da maratona feminina dentro do Coliseu. Fez a reportagem sobre o esforço da suíça Gabrielle Andersen para completar a prova: contorcendo-se em câimbras, não permitiu que ninguém a tocasse até cruzar a linha de chegada (para somente então cair ao solo e ser atendida). A imagem é considerada uma das mais importantes do esporte mundial.
E, nos Jogos Olímpicos de Seul, fez a polêmica entrevista com o corredor Joaquim Cruz em que ele denunciou o uso de anabolizantes pelos atletas americanos depois da desclassificação do canadense Ben Johnson, por doping. A entrevista teve repercussão no mundo inteiro. Joaquim treinava com eles nos EUA e, depois de ser muito criticado por acusar outros atletas de doping, abandonou a Olimpíada. Ele tinha ganhado medalha de prata poucos dias antes, nos 800 metros, e desistiu de correr os 1.500 metros.
Foram muitas histórias inesquecíveis na cobertura esportiva. Até recentemente era convocada para falar sobre esse pioneirismo no futebol. Depois de doze anos, foi convidada para trabalhar na Editoria Rio em 1993. Do período, destaco as coberturas que fez da Chacina da Candelária e do assassinato de Daniella Perez. Em tantas décadas, teve o privilégio de entrevistar Ayrton Senna, Pelé, Tom Jobim, Luciano Pavarotti, Kurt Cobain e tantos outros. E de conhecer o mundo. Cobrir o carnaval carioca era uma das suas paixões. Foram mais de trinta anos ao vivo na Avenida! Várias entrevistas feitas por Isabela estão em documentários recentes do GloboPlay, o que demonstra a relevância e a qualidade delas - Pepê, Castor de Andrade e Garrincha. Vale conferir.
Em 1998, uma guinada. Mudou-se para Belo Horizonte, onde ficou por mais vinte e cinco anos. Apresentou o MG TV de 1998 a 2019 e, hoje, é uma personalidade mineira, respeitada por todos, parada nas ruas, os espectadores reconhecem o profissionalismo dela. Dia sim, dia não, ainda em janeiro, estava no JN e nos locais de BH com seu talento. Uma profissional completa.
Ao me despedir de Isabela com esse texto, destaco o meu respeito por ela. E, em nome da Globo, agradeço o jornalismo que praticou aqui: pioneirismo aliado à alta qualidade!
Obrigado,
Ali Kamel


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