• abril 11, 2025
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Alerta vermelho no Move de Belo Horizonte

Alerta vermelho no Move de Belo Horizonte

Quebras constantes e velhice da frota articulada preocupam passageiros

Move 1 Jomar Bragança
Ônibus do Sistema Move de BH

A operação do sistema Move em Belo Horizonte enfrenta um desafio crescente com o envelhecimento de sua frota de ônibus articulados. Reportagens recentes têm exposto a frequência de quebras e os transtornos causados aos passageiros, levantando um debate sobre o futuro desses veículos e as possíveis alternativas em estudo pelas concessionárias.
Um princípio de incêndio em um ônibus articulado no início de abril escancarou a situação de sucateamento desses veículos, que já operam além do prazo de vida útil inicialmente previsto, desde sua aquisição em 2014 para a implantação do Sistema Move. A quebra constante desses ônibus, tornou-se uma ocorrência rotineira, impactando diretamente a mobilidade da população.
Diante desse cenário crítico, algumas empresas concessionárias adotaram uma medida extrema: veículos articulados em pior estado foram retirados de circulação e utilizados como fonte de peças de reposição para manter outros, em condições menos precárias, operando. Um levantamento jornalístico aponta que, diariamente, cerca de 30 ônibus articulados do Move, de um total de 189, são retirados de serviço para manutenção ou por apresentarem condições inadequadas para circular. Esse número representa aproximadamente um em cada seis articulados da frota da capital mineira.
Uma das alternativas em estudo pelas empresas é a substituição dos ônibus articulados por modelos convencionais, de menor capacidade. Essa possibilidade, no entanto, gera grande preocupação entre os usuários, que já enfrentam superlotação nos horários de pico. A redução da capacidade dos veículos em até 44% poderia intensificar ainda mais os transtornos e aumentar o tempo de espera nas estações.
A operação com uma frota de articulados incompleta tem gerado escalas apertadas e o não cumprimento de algumas viagens, resultando em prejuízos para as empresas, tanto pela perda da receita das passagens quanto pelos custos elevados de manutenção desses veículos de grande porte.
Os ônibus articulados foram introduzidos em 2014 para atender a alta demanda de passageiros das regiões de Venda Nova, Pampulha, Norte e Nordeste, que passaram a utilizar as estações de integração do Move para se deslocar ao Centro. A vida útil inicial desses veículos era estimada em até 10 anos, mas um decreto da Prefeitura de Belo Horizonte, publicado em 2023, estendeu esse prazo para até 12 anos.
A disparidade na capacidade de transporte entre os modelos é significativa. Enquanto um ônibus articulado de 18 metros transporta cerca de 125 passageiros, os modelos menores do sistema, denominados BRT Misto, com 13 metros, têm capacidade para até 70 pessoas, uma redução de 55 passageiros por veículo. Para transportar a mesma quantidade de passageiros de 10 articulados, seriam necessários 17 ônibus menores.
A substituição dos articulados parece ser uma tendência, impulsionada também pela experiência no BRT metropolitano. A alegação das empresas envolve dificuldades de manobra dos articulados fora dos corredores exclusivos e a proximidade do fim do atual contrato de concessão do transporte coletivo de Belo Horizonte, em 2028, o que gera receio de investir em novos veículos de alto custo com um prazo de retorno limitado. Diferentemente dos ônibus convencionais, os articulados usados possuem um mercado de revenda restrito, sendo frequentemente destinados ao desmanche.
O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) reconhece o desafio da substituição dos articulados, devido ao alto custo de aquisição e à proximidade do fim dos contratos, informando que a questão está em discussão com a Prefeitura, com base em estudos técnicos para identificar as soluções mais adequadas e eficientes para as linhas de maior demanda.
Um ponto crítico para o futuro do sistema é o período entre o fim da vida útil dos articulados, previsto para dezembro do próximo ano, e o início do novo contrato de concessão. A substituição dos atuais 189 articulados por veículos menores demandaria uma frota adicional de 321 ônibus convencionais. O aumento no consumo de combustível dessa frota a diesel poderia, inclusive, anular os benefícios ambientais da futura frota de 100 ônibus elétricos anunciados pela Prefeitura para 2025, que ainda não têm prazo definido para entrar em operação.