• setembro 25, 2023
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Anvisa aprova Tirzepatida: substância ajuda no tratamento do Diabetes

Anvisa aprova Tirzepatida: substância ajuda no tratamento do Diabetes

Tirzepatida pode representar (r)evolução no tratamento do Diabetes e uma promessa no tratamento da obesidade, aponta Dra. Patrícia Freitas Corradi

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Anvisa aprova Tirzepatida: substância ajuda no tratamento do Diabetes, diz Endocrinologista Patrícia Freitas Corradi

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou no dia 25 de setembro de 2023 a substância Tirzepatida, fabricada pelo laboratório farmacêutico Lilly sob o nome comercial Mounjaro, como adjuvante à dieta e exercícios para melhorar o controle glicêmico de adultos com diabetes mellitus tipo 2.

A Tirzepatida é um agonista duplo dos hormônios GIP (sigla para polipeptídeo insulinotrópico) e GLP-1 (sigla para polipeptídeo 1 semelhante ao glucagon). Esses hormônios são normalmente produzidos pelo nosso corpo durante as nossas refeições e são capazes de controlar a secreção de insulina pelo pâncreas, melhorando os níveis de glicose e estimular a saciedade. Pelo fato de atuarem sobre a ingestão de alimentos, podem levar à perda de peso.

A diferença entre esta nova classe de medicamentos e outros como a liraglutida (Saxenda) e a semaglutida (Ozempic) já incorporados à prática clínica para os mesmos fins é a ativação complementar do hormônio GIP, o que potencializa o efeito da tirzepatida.

Estudos clínicos demonstraram um maior potencial em relação à redução da hemoglobina glicada nos pacientes com diabetes, com 51% dos pacientes atingindo excelente controle glicêmico em comparação à semaglutida (Ozempic), cuja taxa foi de 20%. Além da eficácia laboratorial, o tempo para se atingir um controle glicêmico tão expressivo também foi recorde: em torno de 8 semanas. Esses dados,em conjunto, tornam a Tirzepatida a medicação mais eficaz no tratamento do diabetes mellitus tipo 2 até o momento.

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Em relação à obesidade, a medicação parece ser mais uma promessa. Nos estudos clínicos já disponíveis (Surmount 3 e 4) a resposta em relação ao peso foi surpreendente: em comparação ao placebo, voluntários com obesidade ou sobrepeso apresentaram uma perda ponderal nunca antes atingida e, inclusive, comparável a resultados atingidos com a cirurgia bariátrica: em torno de 26% do peso corporal (em média 28 quilos).

Todavia, tanto no Brasil quanto no exterior, a aprovação em bula da Tirzepatida se restringe aos pacientes com diabetes e seu uso para o tratamento da obesidade ainda seria off-label. Assim como aconteceu com a liraglutida e a semaglutida, em estudos ainda em andamento, a tirzepatida está sendo avaliada para outras condições de saúde: obesidade, esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado), apneia do sono, insuficiência cardíaca e doença renal crônica.

Sem dúvida, os resultados apresentados são animadores. Ainda mais quando consideramos a prevalência crescente de casos de diabetes e obesidade no Brasil: as estatísticas mostram que, atualmente, um em cada cinco brasileiros está acima do peso e, nos próximos 20 anos aproximadamente 10% da população desenvolverá diabetes.

A tirzepatida ainda não se encontra disponível para compra nas farmácias do Brasil. Especialistas acreditam que os fatores que limitariam a sua prescrição seriam semelhantes à liraglutida (Saxenda) e à semaglutida (Ozempic). É comum às classes efeitos colaterais, principalmente relacionados à tolerância gastro-intestinal, como náuseas e alteração do funcionamento do intestino e altíssimo custo: o valor do tratamento mensal excede o salário mínimo.

Enfim, ao mesmo tempo em que comemoramos o surgimento de mais uma opção terapêutica segura e eficaz em relação ao tratamento de doenças crônicas tão prevalentes que aumentam o risco cardiovascular, pioram a qualidade de vida das pessoas que com elas convivem e oneram o sistema de saúde, seguimos esperançosos de que sejam, de alguma forma, mais acessíveis à população em geral.

Texto: Dra. Patrícia Freitas Corradi (CRM-MG 48525) – Endocrinologista