• julho 6, 2025
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CCBB BH recebe exposição “Finca-Pé: Estórias da terra”

CCBB BH recebe exposição “Finca-Pé: Estórias da terra”

Mostra com mais de 50 obras conta com participação do artista mineiro Marcos Siqueira

Registro de performance antonio obá foto diego bresani
Registro de performance do artista Antonio Obá em exposição no CCBB BH Foto/Diego Bresani

Após estrear no CCBB Rio de Janeiro, a exposição “Finca-Pé: Estórias da terra”, do brasiliense Antonio Obá, ocupa o Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte até 1°de setembro, com entrada gratuita.

Reunindo mais de 50 obras, sendo a primeira individual do artista na capital mineira, a mostra integra a itinerância nacional do projeto que passará, ainda, por Brasília.

Com curadoria de Fabiana Lopes, “Finca-Pé” propõe um mergulho nas experimentações de Obá sobre a relação entre o corpo, o território e a permanência.

“A terra pode ser o chão, pode ser Cerrado, pode ser planeta, pode ser um jardim imaginário ou um jardim interior do indivíduo. A experiência de caminhar pela exposição é a de transitar por essa multiplicidade”, ilustra a curadora.

O título remete ao gesto de fincar os pés no chão como atitude de resistência e existência. “Acredito que as obras que faço, não raro, refletem um pouco sobre esse estar no mundo e senti-lo. Não só vê-lo, mas cheirá-lo, tocá-lo, escutá-lo, e cada um desses sentidos atua como catalisador do que pode ser potencialmente estético, dentro de uma pesquisa”, comenta o artista.

O conjunto de obras inclui desenhos, pinturas, instalação, cadernos do artista e o filme-performance Encantado, que convida o público a refletir sobre símbolos e rituais, principalmente ligados a práticas espirituais e religiosas.

O artista se inspira na figura do peregrino, que caminha para cumprir uma promessa e transforma essa jornada em uma experiência visual e sensorial.

No percurso expositivo, a instalação “Ka’a pora” (2024) ganha destaque, composta por 24 esculturas de pés em bronze adornados com galhos que evocam a relação íntima com a terra natal do artista, o Cerrado, muito presente em toda sua produção.

Também faz referência à grandiosidade cíclica das árvores, marcações temporais características da região.

“Essa obra se relaciona com a resistência, mas também com a forma como o Cerrado se renova após a estiagem, voltando ao verde com a primeira chuva. Isso, para mim, é uma imagem potente da existência”, explica Antonio Obá.

Na série “Crianças de coral – nigredo/coivara” (2024–2025), composta por 12 retratos em carvão sobre tela, as imagens são construídas camada a camada, em um gesto de esculpir com o carvão em pó.

A mostra também apresenta conjuntos de desenhos em técnicas variadas como grafite, giz de cera, extrato de noz, bico de pena e nanquim dourado. Os cadernos do artista revelam esboços, anotações e processos de pensamento em constante trânsito.

“Enquanto estou pintando, fico pensando com a pintura, nas informações que vão sendo formadas ali, no que a imagem diz além do que se vê, quais são os intertextos que ela vai tecer. Então, se principia uma obra, mantém-se a pesquisa de imagens, referências correlacionadas e algo de criativo e inesperado se dá à consciência, mas que só vem através da labuta, da mão na massa”, comenta Obá.

A exposição no CCBB BH conta, ainda, com a participação do artista mineiro Marcos Siqueira, nascido e residente na Serra do Cipó. Suas pinturas, realizadas com pigmentos naturais sobre madeira, são feitas com matéria extraída diretamente da terra.

O solo da região se transforma em cor e suporte, e suas obras evocam cenas da infância, do cotidiano rural e da ancestralidade.

Com isso, os trabalhos de Siqueira estabelecem um diálogo direto com os temas centrais de Antonio Obá, expandindo a mostra para um campo poético em que a terra é tanto matéria quanto memória.

Sobre os artistas em exposição no CCBB BH

Antonio Obá investiga as relações de influência e contradições dentro da construção cultural do Brasil, tensionando memórias identitárias, raciais e políticas. Sua produção transita entre escultura, pintura, instalação, performance e desenho.

Suas mostras individuais mais recentes incluem Pinacoteca de São Paulo, Centro de Arte Contemporânea de Genebra, Oude Kerk – Amsterdam, X Museum, e de coletivas no MASP, 12 Bienal de Liverpool, Bourse de Commerce – Pinault Collection, MAM RJ, Zeitz MOCAA e Museu Nacional da República.

Marcos Siqueira nasceu em Betim (MG), em 1989, e vive na Serra do Cipó. Sua pesquisa parte da terra como matéria e símbolo, criando pigmentos extraídos do solo da região onde vive. Participou de exposições coletivas como Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro (SESC SP/RJ, 2023–2024) e de individuais como Matutar (Mendes Wood DM, Nova York, 2024).

Em 2023, teve obra adquirida pela Pinacoteca de São Paulo. Também integrou a seção Focus da Frieze NY em 2023.