• agosto 7, 2023
  • 8 minutos

Entrevista com Marina Zurita: direção e arte

Entrevista com Marina Zurita: direção e arte

Mesmo jovem, paulista com raízes em Minas detalha sua trajetória contundente no teatro nos Estados Unidos

 

Diretora Marina Zurita
Marina Zurita: a cultura ao redor do teatro é muito diferente entre os Estados Unidos e o Brasil (Foto: Arquivo Pessoal)

Paulista de nascimento, mas mineira de coração, Marina Zurita estabeleceu mesmo na terra do Tio Sam. Aos 25 anos, a artista e diretora de teatro já tem uma carreira bastante sólida, hoje em Nova York, onde reside.
Desde que chegou aos Estados Unidos, mostrou logo seu talento que lhe rendeu convite para ser artista residente de companhias de teatro como Target Margin (NYC) e a galeria de art A.P.E (MA). Formada pela escola de Drama University of North Carolina School of the Arts, a “mireirista” foi também foi recrutada pelo fellowship de direção cênica do Kennedy Center for the Performing Arts (DC), onde dirigiu duas peças.

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Nesta entrevista ao CIDADE CONECTA, ela conta com mais detalhes sobre sua trajetória longe do Brasil e os motivos pelos quais foi tentar carreira nos Estados Unidos.

Por que sair de Brasil para os EUA? O desejo foi apenas por uma faculdade nos EUA ou já era uma escolha pela carreira Internacional?

Sempre tive interesse em viajar e morar fora do País. A escolha de ir para os Estados Unidos veio por conta da minha fluência no inglês. Mas a vontade mesmo era de conhecer a vida e o teatro em outros lugares. Enquanto no ensino médio eu cheguei a me formar no curso técnico de teatro no Célia Helena em São Paulo. Então, sempre senti que tive uma formação teatral bem forte no Brasil e quando chegou a hora de prestar vestibular resolvi me aventurar e buscar uma formação em um lugar novo. Tem sido muito importante para mim poder comparar a minha formação teatral no Brasil e nos Estados Unidos. A cultura ao redor do teatro é muito diferente entre esses dois países, não só por conta do tamanho da indústria de entretenimento norte-americana que, como todo mundo sabe, é gigantesca, mas também as técnicas e linguagens utilizadas por artistas de teatro. E eu me sinto muito privilegiada por ter tido acesso a essas duas portas de referências.

Como você definiria a diferença entre o fazer teatral nos Estados Unidos e no Brasil?

O que todo mundo sabe é que os Estados Unidos tem uma verdadeira indústria de teatro. Existem milhares de companhias de teatro, muito público e financiamento privado. Para além disso, existe uma cultura de especialização nos Estados Unidos muito forte e que influência essa indústria teatral. Existem funções e trabalhos muito delimitados dentro da estrutura de uma produção teatral, o que gera uma eficiência e organização muito grande. Mas ao mesmo tempo limita a energia de colaboração dentro das produções – o que no Brasil existe em abundância. No Brasil, a indústria é menor, existe uma escassez de recursos financeiros e justamente por isso também há mais colaboração e menos especialização de funções. Todo mundo faz um pouco de tudo porque muitas vezes não existe verba suficiente para contratar um time muito grande. No Brasil os atores estão mais acostumados a colaborar com escritores e diretores na própria criação de uma peça. Nos Estados Unidos atores são, na maior parte do tempo, simplesmente contratados para executar peças que já foram escritas.

Qual a diferença entre uma formação na área de teatro nas faculdades do governo e em uma universidade americana?

Nunca fiz faculdade de teatro no Brasil, mas o que eu posso dizer é que o meu curso nos Estados Unidos foi extremamente prático e que desde sempre a universidade procurou me conectar ao mundo de trabalho dos Estados Unidos. Do pouco que sei sobre os cursos superiores de teatro no Brasil, sei que eles tendem a ser mais teóricos e com pouca conexão direta com oportunidades de trabalho. Estudei na escola de Drama da University of North Carolina School of the Arts, uma universidade que só aceita dois estudantes de direção teatral por ano. Pelo fato da escola ser pequena, eu senti uma abundância de oportunidades à minha disposição. Mas eu tenho a consciência de que isso não é a realidade de todas as escolas nos Estados Unidos.

Os dados mostram que a taxa de desemprego entre os jovens brasileiros com idade de 18 a 24 anos é mais que o dobro da taxa da população em geral. Como foi a sua experiência de procurar emprego depois de formada?

Justamente pelo apoio que senti da minha universidade em me conectar com a indústria de teatro do país, não senti que foi difícil conseguir emprego depois de formada. Meu primeiro emprego foi um estágio em uma das maiores companhias de teatro dos EUA, chamada Manhattan Theater Club. Lá trabalhei com a Casting Director Kelly Gillespie na contratação de elenco para peças tanto na Broadway como Off Broadway. Logo depois de me formar também fui recrutada pelo Fellowship do Kennedy Center for The Performing Arts. Basicamente esse Fellowship me abriu as portas pra trabalhar com diversas companhias de teatro como Atlantic Thetaer Company e Coult Core Theater Company. Logo depois de me formar eu também me conectei com a companhia de teatro Et Alia Theater, formada por um grupo de mulheres internacionais. Eu dirigi a peça Saudades escrita pelo escritor Fernando Segall, produzida pela companhia no Consulado do Brasil em Nova Iorque, no Festival Rough Draft e no teatro JACK. Pra resumir, eu me senti muito privilegiada depois de me formar na faculdade porque senti que existiam muitas oportunidades à minha volta. E eu com certeza consigo traçar uma correlação entre essas oportunidades e as pessoas da minha universidade que me conectaram com elas.

Quais possibilidades se deslumbraram para sua carreira?

No momento o meu foco é continuar desenvolvendo um projeto que criei em colaboração com duas atrizes (Laila Garroni e Josanna Vaz) chamado Riven, ou, em português, Ruptura. Essa peça foi baseada em entrevistas com catadores de material reciclável do Brasil, porém por conta da minha trajetória artística, ela nasceu e segue se desenvolvendo nos Estados Unidos. Mas o meu intuito é levar ela para o Brasil o quanto antes possível.

Confira no telejornal Américas no Ar uma reportagem sobre a peça Saudades, dirigida por Marina Zurita, no momento 25min25: