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- maio 15, 2025
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Entrevista: Evolução no tratamento do câncer

Médico oncologista Enaldo Melo de Lima, coordenador do Hospital Integrado do Câncer da Rede Mater Dei de Saúde – HIC fala sobre os avanços do controle de sintomas e dos cuidados paliativos da doença

Com sólida formação acadêmica, o médico da Rede Mater Dei Enaldo Melo presidiu a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e atualmente preside a Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC). Além disso, o renomado oncologista tem destacada atuação na educação médica, sendo coordenador do curso de especialização em Cancerologia Clínica da instituição. É reconhecido por sua liderança em congressos científicos sobre câncer e pela promoção da inovação em cuidados oncológicos. Nesta entrevista ao CIDADE CONECTA, o médico – que é referência nacional na área – detalha sobre importantes cuidados oncológicos que devem ser seguidos.
Quais momentos da sua trajetória profissional foram determinantes para sua escolha pela oncologia e sua atuação na coordenação de um centro integrado como o do Mater Dei?
Desde a faculdade de medicina já tinha identificação e interesse no diagnóstico e tratamento do câncer. Ao longo da minha especialização e, sobretudo no curso da minha carreira, entendi a importância maior de acolher e cuidar das pessoas em um momento de tamanha fragilidade – que é a pessoa e a família com câncer. A minha atuação como Coordenador da Oncologia da Rede Mater Dei | HUB BH ocorreu em um momento da minha carreira, ao qual eu já possuía maturidade suficiente para colocar em prática o grande aprendizado e volume de pacientes que tinha obtido na Santa Casa de Belo Horizonte ao longo de 19 anos de atuação. Foi, sem dúvidas, a oportunidade de casar essa experiência adquirida com a estrutura e equipes oferecidas pela Rede Mater Dei. Outro fator determinante foi a decisão, implementação e apoio da Diretoria da Instituição para a estruturação do centro oncológico. Em diversos momentos, ao longo dos últimos 14 anos, foi necessário recalcular a rota e esse alinhamento com a direção foi fundamental.
Quais mudanças mais significativas o senhor testemunhou no tratamento do câncer ao longo da sua carreira?
Em todas as áreas de tratamento: cirurgia, radioterapia e tratamento medicamentoso com ganho de sobrevida a cinco anos, passando de 20% no final dos anos 1980 para 75% atualmente. Além de ganho de sobrevida, o controle de sintomas e cuidados paliativos melhoraram de forma expressiva com estruturação de políticas, implantação e implementação desses programas que colocam o paciente no centro do cuidado. Hoje, além do ganho de vida, o paciente pode viver melhor durante o curso da doença.
Em sua opinião, como o modelo de atendimento multidisciplinar do Hospital Integrado do Câncer da Rede Mater Dei contribui para melhores resultados clínicos?
Indubitavelmente, as reuniões multidisciplinares e focadas nos casos clínicos traduzem um resultado superior. A quantidade de conhecimento envolvido no processo decisório de cada caso, só é possível vivenciar em reunião com um grupo de especialistas que utilizam ferramentas específicas de navegação, integrando uma verdadeira sessão anátomo-radiológica e clínica. Além disso, oferecemos uma jornada assistencial coordenada, que integra atendimento ambulatorial, infusional, cirúrgico e hospitalar em um mesmo ecossistema. A abordagem multiprofissional e o uso de tecnologias de última geração garantem precisão diagnóstica, adesão terapêutica e melhores desfechos clínicos. Temos, de fato, um centro de referência nacional no tratamento do câncer, reconhecido pela excelência assistencial e pelo cuidado integral ao paciente oncológico. Com estrutura moderna e protocolos clínicos baseados em evidências, consolidamos como um modelo centrado na experiência do paciente, na segurança e na personalização do tratamento. É preciso ressaltar ainda que o nosso serviço conta com a acreditação internacional da Joint Commission International (JCI), o que reforça o compromisso com a qualidade.
Quais avanços recentes em terapias oncológicas — como imunoterapia ou medicina personalizada — o senhor considera mais promissores?
O que eu considero mais promissor é o entendimento da doença como um processo molecular e celular extremamente complexo e com grande plasticidade celular, além do desenvolvimento de tratamentos específicos e voltados para cada um desses processos moleculares e celulares. Aqui, engloba não somente a imunoterapia, mas também, inibidores de proteínas, imunoconjugados, técnicas de transplantes, anticorpos monoclonais e bi-específicos. É importante salientar a importância da cirurgia curativa ou mesmo citorredutora de células tumorais tronco, além da sua atuação no processo de recaída da doença.
Como a Rede Mater Dei tem se estruturado para incorporar inovações tecnológicas no cuidado ao paciente com câncer?
Utilizando os dados mais robustos que evidenciam que essas novas tecnologias, seguindo as agências regulatórias nacionais e internacionais em todas as áreas de tratamento e oferecendo um programa completo entre as equipes no processo decisório, que otimiza o melhor resultado.
De olho para o futuro, quais tendências ou mudanças o senhor acredita que vão transformar a oncologia nos próximos anos?
Entendendo sobre as causas básicas da epidemia atual de câncer que são os nossos maus hábitos de vida, sobretudo na nossa dieta ocidentalizada, sedentarismo, tabagismo, etilismo – que são todas preveníveis e contornáveis em cerca de 40 a 50% dos casos serão o cerne dessa transformação. Quanto às inovações, considero que devemos voltar o nosso olhar ainda mais para programas básicos de detecção precoce e de alta suspeição de câncer, do que de fato as novas tecnologias de tratamento. Já na visão do microambiente hospitalar criar um senso de “urgência oncológica” para o corpo clínico como um todo, é que trará resultados superiores na cura e controle da doença. Entendo os fundamentos de biologia molecular e celular do câncer como diagnóstico precoce, traduzido como “tempo” e menor volume de doença é que de fato trarão os melhores resultados.