- abril 18, 2025
- 7 minutos
Tiradentes respira literatura em feira com presença de importantes autores

Nesta quinta edição, Fliti atrai público de todas as idades, em quase 70 horas de programação, com direito a mesas de conversas, oficinas, lançamentos e apresentações

Luís Otávio Pires (*)
Conhecida pelos eventos de gastronomia, cinema e motocicletas – para citar os mais famosos – Tiradentes se destaca, aos poucos, também como a cidade da literatura. E a responsável por esta virada cultural é a Feira Literária Internacional de Tiradentes que, mesmo em sua quinta edição apenas tem atraído visitantes de várias partes do País e escritores de renome – pelo menos duas vezes ao ano.
Esta edição da Fliti, realizada de 9 a 13 de abril, trouxe um balanço satisfatório para seus organizadores que prometem repetir a dose no segundo semestre. O evento reuniu um público de 17.376 pessoas nas duas etapas (a primeira no final de 2024 e a segunda agora neste mês). Foram mais de 60 autores e quase 70 horas de programação.
Com ações voltadas à formação de leitores, a Fliti ainda distribuiu mais de 2.300 vouchers de livros para estudantes da rede pública da região do Campo das Vertentes, onde se localiza a cidade histórica.
A idealizadora e diretora Cristina Figueiredo destacou que a feira é uma rica experiência cultural que tem transformado a vida da população de Tiradentes.
“Foram dias de intensa troca e convívio com autores e público. Com o edital de escritores independentes e o concurso de poemas nas escolas, estimulamos a descoberta de novos talentos. Nos surpreendemos com a qualidade dos trabalhos inscritos, com o interesse do público infanto-juvenil pelos debates e livros e ouvimos conversas inspiradoras com a certeza de que, nos próximos anos, colheremos os frutos dessa verdadeira imersão cultural”, analisa.
Formato pode mudar
O formato da quinta edição, com a realização de mesas de conversas, oficinas, lançamentos e apresentações para leitores de todas as idades pode ter alterações e retornar com os estandes das editoras, no estilo bienal do livro. É uma forma de envolver ainda mais os visitantes.
Isso não significa que nos moldes atuais Tiradentes deixou de respirar livros. O auditório do Centro Cultural Yves Alves, onde aconteceram os painéis, ficou cheio em boa parte dos bate-papos. No Espaço Cultural Aimorés e o Largo das Mercês, onde estava estacionado o Ônibus-Biblioteca, a frequência também foi considerada bastante satisfatória.
A presença de escritores “best-sellers” e de personalidades da TV e da Internet serviram como atração de um público qualificado, ávido pela literatura tão deixada de lado no Brasil, onde 33% das crianças menores de 5 anos passam mais de 2 horas por dia em frente a telas de TV, tablet ou smartphone, de acordo com o levantamento realizado pelo Projeto “Pipas, Primeira Infância para Adultos Saudáveis”. Há mais dados desanimadores: a última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil mostra que 31% dos brasileiros nunca compraram um livro e quase metade da população não tem o hábito de ler.
Daí a aposta em famosos como incentivo. O painel com a atriz e humorista Heloísa Périssé, em um sábado à noite durante a Fliti, por exemplo, lotou o auditório do Yves Alves. Com mediação da jornalista Fátima Bernardes, o bate-papo de pouco mais de uma hora deu gostinho de quero mais. A simpatia de ambas foi contagiante e a participação da plateia não poderia ter sido melhor.
Heloísa Périssé mostrou seu lado espiritual forte, sua crença em Deus e Jesus Cristo. Sempre com muito humor, a baiana que se mudou para o Rio de Janeiro aos 19 anos contou como foi “morar” dentro do seu Chevette antes de se estabelecer na carreira. É um dos casos de sua biografia “Cheia de graça: Uma jornada de humor, amor e cura”, onde ela reconta, em depoimento à jornalista Isa Pessoa, sua trajetória.
A atriz também descreveu, no painel – e que também está em sua obra – um dos períodos mais desafiadores de sua vida. Já com a carreira consolidada, Heloísa Périssé se deparou com a descoberta de um tipo raro de câncer, com complicações igualmente incomuns, que a fez se conectar ainda mais com a sua religiosidade.
Contou a Fátima Bernardes que, durante os períodos mais complicados, nunca perdeu a leveza nem a fé de que algo maior estava sendo reservado para ela. Além de causos divertidos e emocionantes, Heloisa mescla a sua história com mensagens motivacionais e inspiradoras para incentivar o leitor a ver a vida com positividade e cheia de graça.
Outras personalidades do universo literário também prestigiaram a 5ª Fliti e dividiram experiências com o público. Caso dos escritores Milton Hatoum, Ana Maria Machado, Martha Medeiros, Teresa Cárdenas, Geni Núñez, Mary Del Priore, Rodrigo Teixeira e Bruno Venga.
Marcaram presença ainda os jornalistas Eduardo Bueno (Peninha), Cristina Serra, Eucanaã Ferraz, Ruan de Sousa Gabriel e Ernesto Rodrigues, assim como ilustradores premiados, entre eles Roger Mello, Guto Lins, Daniel Kondo e Isol Misenta (Argentina). A cantora Zélia Duncan e os economistas Zeina Latif, Cris Schimidt e Fabio Giambiagi também brindaram o público com depoimentos sobre suas obras.
Ônibus-Biblioteca em Tiradentes
O envolvimento do público infanto-juvenil foi destaque na Fliti, segundo os organizadores. Como nas edições anteriores, o Ônibus-Biblioteca ficou estacionado no Largo das Mercês, onde a turminha participou de contações de histórias e teve acesso a mais de 2 mil livros que foram emprestados gratuitamente para que levassem às suas casas. O veículo ainda circulou por Tiradentes e pelas cidades vizinhas.
Durante a Fliti, foi estabelecida uma parceria da organização da feira com a Secretaria Municipal de Cultura, Lazer, Turismo e Esporte para o patrocínio na reabertura da Biblioteca Pública Municipal de Tiradentes, iniciativa que explora o conceito “Biblioteca Viva”.
(*) Enviado especial a Tiradentes viajou a convite da organização da Fliti
Galeria – Momentos da 5ª Fliti: