- abril 11, 2025
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Motoclube celebra 45 anos nas estradas de Minas e do Brasil

De encontros na Praça da Liberdade a símbolo do motociclismo mineiro, Águias de Aço homenageiam seus fundadores e celebram sua história com motores, memórias e irmandade

Luís Otávio Pires
Tudo começou em encontros despretensiosos na Praça da Liberdade, aos domingos, no final dos anos 1970. Liderados pelo jovem militar do Exército Brasileiro, José Senra Moreira, um grupo de apaixonados por motocicletas — especialmente as da marca Harley-Davidson — se reunia na tradicional Feira Hippie para curtir o momento, conversar sobre as máquinas e compartilhar ideias e histórias.
Desses encontros nasceu um grupo movido pela paixão pelas estradas e pelos valores de fraternidade, lealdade e espírito livre: os Águias de Aço.
Hoje, 45 anos depois — celebrados oficialmente no dia 9 de abril de 2025 —, muitos daqueles integrantes agora prateados pelos cabelos brancos, e outros já saudosos como o próprio Capitão Senra (que nos deixou há nove anos), jamais poderiam imaginar que o sonho de ter um motoclube se tornaria realidade. E que realidade.
Décio Ferreira, mecânico e um dos fundadores, lembra com carinho que precisou trocar de moto para entrar no grupo.
“Eu tinha uma Amazonas (modelo nacional dos anos 1970), mas o Senra recomendou que eu comprasse uma Harley para fazer parte. Dei um jeito. Não era fácil importar na época, mas consegui”, conta.
Já o administrador Rogério Fortini, também fundador, começou com uma Harley 1937 com sidecar. Apaixonado pelas motos antigas, relembra em tom bem-humorado.
“Já tive Harley 1951 e 1958. Sempre ficava por último nos passeios, porque a minha era a mais velha. Fui evoluindo, hoje tenho uma 2011. Meu prazer nunca foi correr — gosto mesmo é da estrada. Sou um estradeiro”, garante.
De BH ao Jô Soares
O engenheiro Nielson Melo também foi fisgado pelo espírito livre do grupo. Ao conhecer o Capitão Senra na casa de um amigo em comum, percebeu que havia encontrado seu lugar. Com sua Harley 1974 Super Glide, de pneu traseiro fino — uma raridade —, logo se juntou aos Águias de Aço.
Tamanha era sua ligação com a marca que, no início dos anos 1990, Nielson chegou a trabalhar como vendedor oficial da Harley-Davidson no Brasil. Na época, a concessionária Motoshop, com sede em Belo Horizonte, era a única representante e importadora autorizada no País.
Foi por meio desse trabalho que os Águias de Aço foram parar no programa Jô Onze e Meia, no SBT. O próprio Nielson conta como foi:
“Falei com o Jô ao telefone e disse: ‘Temos um grupo de harlistas em BH. Você gostaria de entrevistar a gente?’”.
A resposta foi sim. E lá foram Nielson, Décio, o Capitão Senra, Guilherme Berg, Carlos Picinin e Ismael Saint Clair, todos cinquentões na época, pilotar suas motos para dentro do estúdio.
“Foi fantástico”, relembra Nielson.

O legado do motoclube continua
Os Águias de Aço seguem firmes, ao inspirarem novas gerações. É o caso de Jaqueline Senra Lipovetsky, filha do Capitão Senra, que hoje mantém vivo o legado do pai.
“Filho de peixe, peixinho é”, como se fala no popular. Jackie é uma das figuras mais importantes do grupo atual.
Em carta aberta aos associados no aniversário do motoclube, escreveu:
“Somos diferentes. Isso não nos faz melhores nem piores, apenas diferentes. Somos um grupo, e não um clube de motociclistas. Não temos regras, estatutos ou ritos complicados para se juntar a nós. Existe apenas um jeito natural de entrar: um amigo convida outro para uma conversa, ou para um passeio. E assim tem sido desde aqueles domingos na Praça da Liberdade”.

Mais que motos, uma cultura
Hoje, o clube reúne motociclistas de várias idades, profissões e histórias de vida. Como o professor e empresário Geraldo Juliani, dono de uma Heritage 2013 e proprietário de uma pousada em Casa Branca, distrito de Brumadinho — um dos destinos da Rota Capitão Senra, criada em 2018 para homenagear o fundador e promover o mototurismo em Minas.
“A história da Harley-Davidson em Minas se confunde com a história dos Águias de Aço”, destaca Juliani.
Para marcar os 45 anos, o grupo promove no dia 12 de abril uma confraternização no bar Colheita Alphaville, no centro comercial Center III, em Nova Lima, a partir das 12h. O evento contará com muito rock, motos Harley-Davidson (e também de outras marcas), o que reafirma o espírito acolhedor do motoclube.
O nome “Águias de Aço” reflete bem o símbolo da águia — forte, livre e vigilante — aliado à robustez das motocicletas que cruzam o Brasil. Ao longo de sua trajetória, o motoclube consolidou uma cultura que valoriza a liberdade, a irmandade e o respeito ao próximo, com forte presença em encontros nacionais e internacionais, além de envolvimento em causas sociais.
Hoje, com capítulos em diversas cidades brasileiras, o grupo é símbolo de resistência e união. Para seus integrantes, cada viagem é mais que um trajeto: é a continuidade de uma missão iniciada há quase meio século — viver intensamente a estrada, com respeito, amizade e liberdade.
