- março 27, 2024
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Em nome do Pai

Durante o velório, o padre, em bela e feliz fala, confessou que há muito não via tantas coroas de flores, completando: “flores que ele plantou”.

Em nome de meu pai e em meu nome que, com muito orgulho, é o mesmo, gostaria de começar este texto, não triste, mas constrangedoramente sentimental; com meus mais sinceros agradecimentos. Mais que agradecimentos, homenagens.
Primeiramente à minha mãe e irmã que foram guerreiras que se dedicaram totalmente, exercendo o tal do amor incondicional. Não posso deixar de agradecer também minha tia, Eliana Pereira, e minha esposa, Mariana Melo. Carinho e dedicação totais.
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Agora, meio fora de ordem, porque, agora, a cabeça é tudo, menos ordem e razão; homenagens a várias pessoas fundamentais na luta de meu pai pela vida que ele tanto amou, mesmo em seus últimos momentos.
Meu muito obrigado à Marta, a fisioterapeuta, ser humano mais que especial, ser iluminado. Ela ultrapassou as barreiras do profissionalismo e hoje é uma amiga da família. Marta, obrigado por tudo e você sabe do que estou falando.
Muito obrigado, num momento tão difícil e delicado ao Celso Picchioni que nos brindou com maravilhoso suporte, espelho do que sempre foi, “amigo de fé, irmão, camarada”.
Obrigado Haroldo, da Funeral House pelo apoio e dedicação à nossa família e, na esteira, mais sinceros agradecimentos às presenças e centenas de mensagens que recebemos no Instagram, WhatsApp e um tal de telefone.
Correndo o risco, já cometendo a injustiça de esquecer muitos nomes e me desculpando por isso, obrigado, agora, ao Dr. Frederico Tadeu, equipe do hospital Madre Teresa e ao Dr. Marcos Andrade, cardiologista.
Quanto a mim, impedido pela emoção, que quase paralisa os dedos, vejo-me obrigado a citar um clichê.
Vem aí a primeira Páscoa sem meu pai, a primeira mesa de Páscoa, sem meu pai. Mesa que poderia ser de botequim e aquela do clássico samba de Sérgio Bittencourt; mesa que chora, lamenta e tortura.
“Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre o que é viver melhor. Naquela mesa ele contava histórias, que hoje na memória eu guardo e sei de cor. Naquela mesa ele juntava gente
e contava contente o que fez de manhã e nos seus olhos era tanto brilho, que mais que seu filho, eu fiquei seu fã (…) eu não sabia que doía tanto (…) naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim”.
Durante o velório, o padre, em bela e feliz fala, confessou que há muito não via tantas coroas de flores, completando: “flores que ele plantou”.
O padre também emprestou o “epitáfio” da banda Titãs, que nem parece rock, mas um carinho, um beijo no rosto, uma canção de ninar que, meu pai, sinceramente, serve para nós dois e todos nossos amigos: “Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer. Devia ter arriscado mais e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer. Queria ter aceitado as pessoas como elas são. Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração. O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído, o acaso vai me proteger
enquanto eu andar”.
Pai; continue me protegendo, principalmente agora, quando, sem você, sem palavras; distraído e perdido, emocionado e sofrendo tua ausência, preciso apelar para músicas e principalmente para os comentários de teus amigos.
Eles quase fizeram um coro, lamentando e sorrindo que, em todas as mesas você vai faltar. Já fazem falta tua voz e teu humor. Teus gestos, o olhar matreiro e os comentários certeiros, ferinos, hilários. A conversa inteligente, para cima, observadora. Teu mau humor mais engraçado do mundo. O comparsa, bom de copo, xodó e de risadas. E o cigarro… Ah! O cigarro! Sem comentários.
Faz falta tua elegância por dentro e por fora. Tua amizade ilimitada, teu astral e também, claro, o Humberto indecifrável e às vezes incompreensível que completam todo ser humano incompleto, jamais perfeito, por um pequeno detalhe: ninguém é.
Pai, eu queria te falar pessoalmente, muita coisa, mas você partiu. Então, continuo apelando para nossos amigos.
Humberto, doce cianureto. Humberto gozador, original e apreciador das boas coisas da vida que, espero, tenha recebido e esteja aproveitando em dobro, enquanto ri de todos nós aqui.
Rindo sim, porque mesmo órfãos de você, continuaremos por você e rindo em tua lembrança, tua maior herança.
Pai, você faz falta em mesas e cadeiras. Pai, a gente devia ter arriscado mais e acertado mais. Prometo honrar teu nome e tentar continuar o que você deixou de bom, exemplar e inesquecível.
Pai; faça cócegas nas nuvens e espero ter te provado, com estas palavras, muitas emprestadas, que a saudade é um esporte coletivo. Um beijo e até qualquer dia.