• abril 23, 2024
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Medula óssea: doação deve ser incentivada

Medula óssea: doação deve ser incentivada

Nesta entrevista exclusiva ao CIDADE CONECTA, o hematologista e coordenador de hematologia do Cancer Center Oncoclínicas em Belo Horizonte, Dr. Evandro Fagundes, explica a importância da sociedade incentivar a doação de medula óssea e como as pessoas podem se cadastrar no Redome do Ministério da Saúde. 

 

 

Dr. Evandro Fagundes hematologista
O hematologista do Cancer Center Oncoclínicas em Belo Horizonte Dr. Evandro Fagundes ressalta a importância da doação de medula óssea (Foto: Divulgação CC/Arquivo Pessoal)

 

 

Entrevista da semana

Dr. Evandro Fagundes

 

 

Dr. Evandro, vamos começar explicando para as pessoas o que é a hematologia e do que especificamente essa especialidade cuida.

Hematologia é a especialidade médica que estuda as doenças próprias do sangue. Apesar de muitas doenças serem diagnosticadas por meio de exames de sangue como glicemia de jejum no diagnóstico de diabetes mellitus, a hematologia lida com as doenças especificas dos componentes do sangue a saber hemácias, leucócitos, plaquetas e fatores de coagulação. Além disso, órgãos intimamente relacionados ao sangue como os órgãos do sistema linfático baço e linfonodos, além das alterações de hemoglobina, proteína vital no processo de transportar oxigênio para os mais distantes tecidos do corpo e que está dentro das hemácias podem ser frutos de estudo do hematologista.

Existem doenças hematológicas muito frequentes na população, a maioria delas consideradas benignas porque não são classificadas como câncer. Exemplo disso são a anemia ferropriva causada por deficiência de ferro para a síntese de hemoglobina e os distúrbios de coagulação causando tromboses ou hemorragias. Existem também as doenças neoplásicas do sangue, entre as quais estão as leucemias agudas e crônicas, os linfomas de Hodgkin e não-Hodgkin, o mieloma múltiplo e as mielodisplasias, entre outros.

 

 

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Há um senso comum de que o transplante de medula óssea é apenas para pacientes onco-hematológicos. O senhor poderia nos dizer para quais doenças são indicados os transplantes de medula?

 

Primeiro vamos definir paciente onco-hemalógico. Esses são aqueles que têm o diagnóstico de uma neoplasia hematológica. Muitas dessas doenças são tratadas e podem até ser curadas sem a necessidade do transplante. É importante dizer que o transplante é uma ferramenta que está inserida no arsenal terapêutico para ser usado no paciente correto e com a doença correta. Ele não é um procedimento que serve para todos e todas. Além disso, outras doenças podem ser tratadas em algum momento com o transplante de medula óssea.

A Anemia Aplástica grave é uma doença não cancerosa na qual ocorre uma falência aguda da medula óssea e, como consequência, não produz os elementos celulares do sangue em quantidade adequada. Com isso, o paciente apresenta anemia grave dependendo de transfusões de hemácias, plaquetopenia com risco de sangramentos em locais críticos e leucopenia com risco de infecções ameaçadoras da vida.

Um dos tratamentos indicados é o transplante. O transplante também é utilizado em determinadas circunstâncias clínicas para tratamento de pacientes com drepanocitose (anemia falciforme), talassemia, imunodeficiências congênitas. Reforço que mesmo para esses diagnósticos, o transplante não é para todos os casos. Existem critérios clínicos bem definidos, além da avaliação física do próprio paciente.

 

 

Como é feita a avaliação do paciente para saber se está apto ou não a fazer esse transplante?

 

A avaliação do candidato a um transplante é ampla e envolve muitos profissionais de saúde. São avaliados a indicação clínica isto é o diagnóstico; o tipo de transplante a ser executado, se autólogo onde o doador é o próprio paciente ou alogênico onde o doador é uma pessoa compatível com o paciente. Outra coisa é a situação clínica atual, por exemplo: pacientes com leucemia em alta atividade geralmente devem receber alguma forma de tratamento antes de fazer o transplante; avaliação das condições do paciente, incluindo idade, presença de infecções em atividade, presença de outras doenças concomitantes etc; presença de um doador; avaliação das condições de saúde geral avaliadas por exame odontológico, psicossocial e outros especialidades médicas.

 

 

Exatamente o que é um transplante de medula óssea?

 

O transplante de medula óssea é na verdade o transplante de células primitivas da medula óssea que são responsáveis por fazer a fabricação de células do sangue (hematopoiese). Essas células primitivas são chamadas de células tronco hematopoiéticas e, por isso o nome correto é transplante de células tronco hematopoiéticas. As células tronco hematopoiéticas podem ser obtidas diretamente da medula óssea através de punções por agulha própria. Nesse caso, o doador é internado em um hospital, recebe anestesia loco-regional e as punções são feitas diretamente no osso da bacia.

O material coletado é colocado em recipiente próprio onde é filtrado e armazenado. As células tronco também podem ser obtidas através do sangue utilizando para isso um estímulo com um medicamento, fator de crescimento de colônias granulocíticas, administrado por via subcutânea por alguns dias consecutivos. Esse estímulo faz com que a medula óssea produza um número maior do que o habitual de células tronco hematopoiéticas e faz com que essas células circulem no sangue.

A coleta é feita por uma máquina processadora de sangue – aferese – que funciona em molde similar a hemodiálise. Nesse sentido, há uma filtração das células tronco que são armazenadas em bolsa plástica de transfusão. Em ambos os casos o material coletado é infundido no paciente através de um cateter colocado em uma veia central.

 

 

Vamos falar agora sobre doação de medula óssea, que precisa ser cada vez mais incentivada. Por que é tão importante?

 

Sem dúvida alguma ter um doador compatível para os transplantes alogênicos é muitíssimo importante e, por isso a doação deve ser incentivada pelos meios de comunicação e entidades.  Hoje temos também uma técnica de transplantes conhecida como haploidêntico onde o paciente pode receber células de um doador não 100% compatível. Isto é possibilitado por conhecimento imunológico e o consequente uso de uma droga relativamente simples, a ciclofosfamida, administrada após o paciente receber as células. Essa técnica ampliou enormemente a possibilidade de transplantes para diversos pacientes, fazendo com que uma longa espera por doador 100% compatível seja minimizada.  Então, felizmente poucos pacientes não conseguem realizar o transplante por falta de doadores.

 

 

“Sem dúvida alguma ter um doador compatível para os transplantes alogênicos é muitíssimo importante e, por isso a doação deve ser incentivada pelos meios de comunicação e entidades”.

 

 

Todas as pessoas podem fazer a doação?

 

O Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea ( Redome) do Ministério da Saúde tem critérios bem definidos para uma pessoa voluntária fazer seu cadastro. Esses critérios podem ser consultados em páginas da web do Redome e do Instituto Nacional de Câncer. Basicamente, eles se referem a pessoas maiores de 18 anos e com boas condições de saúde.

O cadastro consiste de informações pessoais do voluntário e um exame simples de sangue para análise do tipo de HLA (antígeno de histocompatibilidade) que será essencial no processo de avaliação de compatibilidade com o paciente. As doações podem ser feitas em Hemocentros regionais.

 

 

Confira AQUI os Hemocentros em Minas Gerais.

 

 

E quais os avanços da hematologia? O Brasil, nesse sentido, é um país que acompanha os avanços da medicina?

 

Certamente, temos profissionais em todas as áreas envolvidas na hematologia e transplante que são muito bem formados e capacitados. Existem centros hospitalares de transplante tanto públicos ou conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS), quanto privados (saúde suplementar) perfeitamente capacitados para a realização desses procedimentos.

Obviamente, a medicina está sempre em evolução e, por isso podemos ter heterogeneidade na forma com que os avanços chegam nos diferentes locais e centros de transplante. Então, a questão do acesso a medicamentos ou procedimentos é sempre discutida no meio de hematologistas do mundo todo, não somente no Brasil. Cada país apresenta suas características e dificuldades principalmente no que diz respeito à saúde pública.

 

 

 

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