• janeiro 26, 2024
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“Pedala” BH

“Pedala” BH

Belo Horizonte não comporta várias soluções, de mobilidade, que funcionam em outras cidades com topografia completamente diferente, como as litorâneas ou as planas. Nem na Savassi, que é mais ou menos plana, a ciclovia deu certo

Humberto
Humberto Alves 

Me contaram que, depois de 200 anos, Belo Horizonte ganhará uma obra de grande porte, brindando sua principal artéria, a avenida Afonso Plena, no centro da capital. Ufa! Milagre! Que alívio e até que enfim! Deus ouviu nossas preces pela mobilidade urbana.

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Qual é a obra? Pelo que me disseram, será a primeira pista urbana de alpinismo do mundo. Atletas do mundo inteiro já treinam no Everest, para encarar o desafio mineiro. A trajeto a ser escalado vai da Rodoviária até a Praça da Bandeira.

Ops! Calma aí. Fui mal informado. A obra é outra, é uma pista de esqui que, ganhando algumas curvas, vai despencar da mesma Praça da Bandeira, até a Rodoviária. A neve a gente vê depois.

Para tudo! Estão de brincadeira. Descobri, mas parece piada do mesmo teor. Não é alpinismo, nem esqui, mas uma ciclovia, claro! Só podia ser… Que ideia mais genial a da Prefeitura de Belo Horizonte! Agora vai! Vem meteoro!

Mas um momento! Uma ciclovia na Afonso Pena? Para que tipo de usuário? Atletas olímpicos? E quem vai inaugurá-la?

Lance Armstrong, o americano, campeão de ciclismo, famoso por ter vencido o Tour de France por sete vezes seguidas?

Henrique Avancini, 34 anos, 1,76 de altura e 67 quilos, o ciclista que foi líder no ranking mundial da categoria Mountain Bike Cross Country Olímpico da UCI e integrante da Seleção Masculina Brasileira de mountain bike?

O atlético prefeito Fuad?

Cabras?

Agora, sério! Uma ciclovia na Afonso Pena! Que ideia de jerico! Que ideia mais lunática e sádica! Minha gente, estamos nas Alterosas, BH é uma cidade montanhosa, temos bairros onde calçadas têm escadas, pelo amor de Deus!

Ciclovia na Afonso Pena para quê? Vai melhorar o trânsito? Não, vai piorar, diminuindo as faixas para carros e ônibus. Vai incentivar o povo a andar de bicicleta? Muito menos! Haja perna!

Belo Horizonte não comporta soluções viárias, de mobilidade, que funcionam em outras cidades com topografia completamente diferente, como as litorâneas ou as planas. Nem na Savassi, que é mais ou menos plana, a ciclovia deu certo.

Ciclovia aqui só em espaços muito curtos e pouco planos que temos. Mas na Afonso Pena, só para atletas, ou só para descer, quando todo santo ajuda.

Para piorar, o troço vai consumir R$ 25 milhões! Dinheiro que seria muito mais útil se aplicado em soluções já testadas com sucesso, como as simples faixas exclusivas para ônibus, no MOVE. Dinheiro que poderia seguir exemplos de cidades com as mesmas características de nossa bela capital, ou melhor, Belo Horizonte precisa trilhar seus novos e próprios caminhos.

Em qualquer outro setor, transporte, saúde, educação, etc., estes R$ 25 milhões seriam mais pertinentes. Ou trata-se de mais uma tenebrosa transação em ano eleitoral para a mesma prefeitura?

Mas se a intenção era ou é resolver, remediar, a mobilidade urbana, qualquer outro modal seria mais indicado; um monotrilho, um teleférico, menos uma ciclovia.

Belo Horizonte precisa parar de copiar cidades completamente diferentes. Não adianta colocar “bateau mouche” no Arrudas, eles só funcionam em Paris.

E nem é bom bater na eterna tecla do metrô, metrô de verdade, subterrâneo, é perder tempo. Aqui a gente gosta de perder é dinheiro, diretamente, mesmo sabendo que tempo é dinheiro.

Para terminar a conversa e resumindo, ciclovia em Belo Horizonte é ridículo. Oremos para que desistam dela ou seja embargada. Só tem pontos negativos: é rasgar dinheiro; é tumultuar ainda mais o trânsito na Afonso Pena, diminuindo suas pistas; é inútil, porque nenhum mortal consegue subir a avenida de bicicleta e claro a população não quer, não precisa. Nem mesmos os ciclistas.

Isso é coisa de quem não tem o que fazer ou não sabe o que faz. Como escreveu o francês Jean Giono, um rei sem diversão é coisa muito perigosa.

Trocando em miúdos, mente vazia, oficina do diabo.

E Belo Horizonte fica cada vez mais atrasada em comparação as demais capitais do nosso Brasil!